Viajar pelo norte da Noruega é embarcar em uma jornada que combina natureza selvagem, silêncio encantador e vilarejos que parecem ter parado no tempo. Este roteiro é voltado para quem busca não apenas um destino, mas um caminho memorável. A proposta é conduzi-lo por uma rota alternativa, longe dos circuitos mais óbvios, rumo a Reine — uma das paisagens mais fotogênicas da Noruega — utilizando uma combinação eficiente de trem, ferry e ônibus.
Localizado nas Ilhas Lofoten, Reine é um pequeno vilarejo cercado por fiordes e montanhas, com águas cristalinas e casas vermelhas que se refletem no mar. Não é à toa que muitos o consideram um dos lugares mais bonitos da Escandinávia. Mas parte do encanto está no caminho até lá. E é aí que a experiência ferroviária ganha força: cruzar paisagens árticas em vagões confortáveis é algo que transforma a jornada em parte essencial da aventura.
Você encontrará um roteiro detalhado, prático e inspirador para chegar a Reine usando o trem como ponto de partida. Mostraremos como conectar trechos ferroviários com balsas e ônibus locais de forma sincronizada, aproveitando o melhor da infraestrutura norueguesa sem renunciar à beleza da rota. Uma opção perfeita para quem valoriza experiências autênticas e paisagens impressionantes a cada etapa do percurso.
Por que visitar Reine
Reine é um dos segredos mais bem guardados do norte da Noruega. Localizado nas Ilhas Lofoten, esse pequeno vilarejo se estende às margens de um fiorde cristalino, cercado por montanhas pontiagudas que parecem sair diretamente de um cartão-postal. As casas típicas da região, conhecidas como rorbuer, são antigas cabanas vermelhas sobre palafitas que hoje abrigam tanto locais quanto viajantes em busca de autenticidade. O cenário é puro — simples, silencioso e surpreendentemente intacto.
Atrativos principais: trilhas, paisagens, aurora boreal (dependendo da época)
Apesar de ser pequeno, Reine é um destino vibrante para quem gosta de natureza e tranquilidade. Um dos grandes atrativos da região são as trilhas, como a famosa Reinebringen, que leva os visitantes a um dos mirantes mais impressionantes da Noruega — com vista panorâmica sobre o fiorde e as ilhotas ao redor. No verão, os dias são infinitos sob o sol da meia-noite. No inverno, o espetáculo muda: Reine se transforma em um dos melhores pontos das Lofoten para observar a aurora boreal, graças à pouca poluição luminosa e à sua localização privilegiada ao norte do Círculo Polar Ártico.
Motivos para escolher Reine como destino no norte da Noruega
Reine combina o melhor de dois mundos: acesso à natureza selvagem com o conforto de uma estrutura acolhedora e charmosa. Ao contrário de destinos mais turísticos da Noruega, aqui o visitante encontra um ritmo mais lento, experiências intimistas e a oportunidade de realmente se desconectar. É um lugar perfeito para quem busca uma viagem de contemplação, fotografia, caminhadas e encontros autênticos com a cultura local. Além disso, a jornada para chegar até Reine — especialmente quando feita de trem, barco e estrada — é parte essencial da experiência, tornando o destino ainda mais especial.
Iniciando a jornada pelo norte da Noruega
A viagem rumo a Reine começa, para muitos viajantes, com uma bela travessia ferroviária pelo interior da Noruega. Os principais pontos de partida são Oslo, Trondheim ou, em alguns casos, estações intermediárias como Fauske. A escolha vai depender de onde você estiver iniciando sua jornada e de quanto tempo pretende dedicar ao trajeto.
De Oslo, a rota é mais longa, porém oferece uma experiência completa cruzando o país de sul a norte. Saindo de Trondheim, a distância é menor, e o trecho entre Trondheim e Bodo é considerado um dos mais belos da Escandinávia. Já quem estiver explorando o norte e quiser encurtar o caminho pode partir de Fauske, última grande cidade antes de Bodo com conexão ferroviária.
A linha ferroviária que conecta Trondheim a Bodo é a Nordlandsbanen, a ferrovia mais longa da Noruega e a única que cruza o Círculo Polar Ártico. Com quase 730 km de extensão, o trajeto dura cerca de 10 horas e revela paisagens espetaculares — florestas boreais, fiordes, lagos congelados no inverno e vales floridos no verão.
Um dos momentos mais marcantes da viagem é a travessia simbólica do Círculo Polar Ártico, geralmente indicada por placas e celebrada a bordo com anúncios especiais. O trajeto é tranquilo, silencioso e ideal para quem busca desacelerar e observar a mudança gradual da paisagem à medida que a viagem avança rumo ao norte.
Informações sobre companhias ferroviárias
A Vy é a principal companhia ferroviária da Noruega, responsável pelos trechos entre Oslo, Trondheim e parte do percurso até Bodo. No entanto, o trecho Trondheim–Bodo é atualmente operado pela empresa SJ Norge, que oferece trens modernos com boas opções de conforto, incluindo vagões com assentos reclináveis, compartimentos para dormir e até áreas panorâmicas em alguns horários.
As passagens podem ser reservadas com antecedência pelos sites oficiais das operadoras, e há descontos para jovens, estudantes e grupos. Recomenda-se optar por viagens diurnas para aproveitar a paisagem, mas o trem noturno também é uma excelente alternativa para economizar uma noite de hospedagem.
Explorando Bodo antes de partir para as ilhas
Bodo marca o fim da jornada ferroviária no norte da Noruega e o início da travessia marítima rumo às Lofoten. Mas essa cidade costeira, muitas vezes vista apenas como um ponto de passagem, merece ao menos uma parada estratégica. Localizada já acima do Círculo Polar Ártico, Bodo combina natureza poderosa, cultura contemporânea e uma atmosfera jovem impulsionada pela presença de universidades e um crescente cenário criativo. Aproveitar um ou dois dias na cidade é uma excelente forma de descansar entre trens e ferries e ainda explorar algumas atrações únicas da região.
Destaques turísticos
Saltstraumen: A cerca de 30 km do centro de Bodo, Saltstraumen oferece um espetáculo natural fascinante. A cada seis horas, milhões de litros de água passam com força extrema por um estreito canal, criando redemoinhos gigantes que atraem fotógrafos e curiosos. É possível observar o fenômeno da ponte ou por passeios de barco, que chegam bem perto da ação.
Museu da Aviação Norueguesa: Um dos maiores museus de aviação da Escandinávia, o Norwegian Aviation Museum é parada obrigatória para entusiastas da história da aviação civil. Com simuladores, aeronaves icônicas e exposições interativas, o local impressiona pela estrutura e acervo.
Arte urbana e gastronomia local: Bodo está se tornando uma cidade vibrante em arte e cultura. Murais modernos colorem fachadas por toda a cidade, resultado de festivais de arte urbana que ocorrem anualmente. Já na gastronomia, é possível encontrar desde restaurantes com pratos tradicionais à base de peixe até cafeterias modernas com pães artesanais e doces regionais como lefse.
Sugestões para uma parada estratégica
Hospedagem perto do porto: Ficar próximo ao terminal de ferry facilita o embarque para Moskenes, especialmente para quem tem bagagens ou vai sair em horários mais cedo. Há opções que variam de hotéis modernos a pequenos hostels aconchegantes, muitos com vista para o mar.
Caminhadas e mirantes: A cidade conta com trilhas acessíveis que oferecem vistas incríveis do mar e das montanhas. Um destaque é o mirante Keiservarden, que pode ser alcançado após uma caminhada moderada e recompensa com uma vista panorâmica do arquipélago e, em dias claros, até das Lofoten.
Melhor época para avistar a aurora boreal ou o sol da meia-noite: De setembro a abril, Bodo é um ótimo ponto de observação da aurora boreal, graças ao céu limpo e à baixa luminosidade. Já entre maio e julho, o fenômeno do sol da meia-noite oferece uma experiência surreal: dias que nunca terminam, com luz dourada até de madrugada. Seja qual for a época da visita, Bodo promete surpreender e enriquecer a jornada rumo a Reine.
De Bodo a Reine: continuando a aventura
Depois de explorar a cidade de Bodo, o próximo passo da viagem até Reine é atravessar o mar rumo às Ilhas Lofoten. O trajeto é feito de ferry até Moskenes, com duração aproximada de 3h15. A travessia é operada pela empresa Torghatten Nord, que oferece balsas confortáveis, com áreas internas aquecidas, banheiros e até pequenas cafeterias a bordo.
É altamente recomendável reservar com antecedência, especialmente em alta temporada (verão ou períodos de férias escolares), e chegar ao porto com pelo menos 30 minutos de antecedência. O embarque é possível tanto para passageiros a pé quanto para quem estiver com carro alugado. A travessia por si só já é uma atração, com vistas para o oceano ártico e as montanhas das Lofoten surgindo no horizonte.
Como chegar de Moskenes a Reine (ônibus local, táxi ou aluguel de carro)
O porto de Moskenes está localizado a apenas 5 km de Reine, facilitando bastante o último trecho da viagem. Há algumas opções para concluir o trajeto:
Ônibus local: a linha 18-742 costuma operar de acordo com a chegada dos ferries e leva cerca de 10 minutos até Reine. Os horários são sazonais e podem variar conforme o dia da semana.
Táxi: disponível no porto, mas sujeito à disponibilidade. Ideal para quem deseja maior conforto imediato.
Carro alugado: é possível retirar um carro já em Bodo e trazê-lo no ferry, ou alugar em Leknes, a cidade mais estruturada da região, caso decida estender a viagem.
O trajeto é curto, mas já oferece um gostinho do que está por vir: fiordes estreitos, cabanas, montanhas íngremes e o silêncio característico das Lofoten.
Dicas para encaixar os horários de trem e ferry
Coordenar os horários pode parecer um quebra-cabeça, mas com um pouco de planejamento, é perfeitamente possível.
• Se estiver vindo de Trondheim, prefira o trem diurno, que chega a Bodo no início da noite — pernoitar na cidade pode ser uma boa ideia, permitindo pegar o ferry da manhã seguinte.
• Os ferries entre Bodo e Moskenes não operam com grande frequência, então é essencial consultar os horários atualizados no site da Torghatten Nord.
• Use aplicativos como Entur (oficial do transporte norueguês) ou Reis Nordland para conferir conexões entre ônibus e balsas na região das Lofoten.
A chave para essa etapa da jornada é a flexibilidade: o ritmo lento e as conexões multimodais fazem parte da experiência e, muitas vezes, os pequenos intervalos de espera viram oportunidades para contemplar a paisagem ou descobrir cafés escondidos pelo caminho.
Chegada a Reine: experiências no coração das Lofoten
Ao chegar em Reine, a primeira sensação costuma ser de silêncio e imensidão. Aninhado entre picos e o mar calmo, esse pequeno vilarejo oferece uma das paisagens mais fotogênicas da Noruega — talvez até da Europa. As casas vermelhas (chamadas rorbuer), os barcos flutuando pacientemente nos fiordes e o ar fresco do Ártico criam uma atmosfera quase surreal. Reine é o tipo de lugar onde o tempo parece parar, e cada vista convida à contemplação.
Trilhas imperdíveis e atividades ao ar livre
A trilha mais conhecida, Reinebringen, oferece uma subida íngreme recompensada por uma vista estonteante do vilarejo e das ilhas ao redor. A escadaria de pedra construída recentemente facilita a subida, mas ainda exige preparo físico.
Para quem prefere a água, é possível alugar caiaques e explorar os fiordes remando entre as montanhas, em silêncio absoluto. No verão, o clima ameno convida para banhos de sol e caminhadas mais longas. No inverno, o cenário nevado cria um ambiente mágico.
Além disso, Reine é um paraíso para fotógrafos e para quem busca paz. A luz no norte da Noruega tem uma qualidade única, especialmente durante o pôr do sol e o nascer do sol, que podem durar horas. No outono e inverno, a aurora boreal costuma dar o ar da graça em noites claras, dançando sobre as montanhas.
Mesmo para quem não busca trilhas ou aventuras, simplesmente caminhar pelas margens dos fiordes ou se sentar em um banco com vista para o mar já é suficiente para sentir a força do lugar. Reine é um convite à desaceleração.
Melhor época para fazer esse trajeto
Viajar pelo norte da Noruega até Reine é uma experiência marcante em qualquer época do ano, mas as condições climáticas e o tempo de luz do dia variam bastante conforme a estação — e isso influencia diretamente na forma como o roteiro se desenrola.
Durante o verão (junho a agosto), os dias são extremamente longos, especialmente acima do Círculo Polar Ártico, onde ocorre o fenômeno do sol da meia-noite. Isso significa luz natural durante 24 horas por dia em determinadas semanas, o que permite aproveitar trilhas, travessias de ferry e passeios ao ar livre a qualquer hora. As temperaturas são amenas (entre 10°C e 20°C), ideais para atividades como hiking, caiaque e fotografia de paisagens verdes e exuberantes.
No inverno (dezembro a março), por outro lado, a luz do dia é muito limitada — em alguns períodos, o sol não chega a nascer completamente. Mas essa escuridão parcial é o palco ideal para quem sonha em ver a aurora boreal. As montanhas cobertas de neve e os vilarejos iluminados criam uma atmosfera mágica. As condições climáticas, no entanto, podem dificultar o deslocamento: estradas escorregadias, possíveis atrasos de ferry e trilhas fechadas são aspectos a considerar.
Outras estações oferecem experiências híbridas. A primavera (abril e maio) traz dias mais longos, paisagens ainda salpicadas de neve e menos turistas. Já o outono (setembro e outubro) combina cores vibrantes nas montanhas com o início da temporada de auroras.
Vantagens de viajar no verão versus inverno
Viajar no verão é ideal para quem deseja mobilidade mais fácil, trilhas abertas, longos períodos de luz natural e temperaturas agradáveis. A rota ferroviária e os ferries operam com mais frequência, o que facilita a logística de um roteiro multimodal como esse. Além disso, é mais fácil encaixar horários de trem, ônibus e travessias sem pernoites desnecessários. A alta temporada, porém, exige planejamento: os preços sobem e a disponibilidade de hospedagem se torna mais limitada.
Viajar no inverno, por outro lado, proporciona uma experiência mais introspectiva, silenciosa e profundamente ártica. Ver a aurora boreal dançando sobre as montanhas de Reine é algo que muitos consideram inesquecível. Os vilarejos ficam mais vazios, há promoções em hospedagens e a paisagem ganha uma beleza dramática com neve cobrindo os telhados e fiordes congelados ao redor. O ritmo da viagem será naturalmente mais lento — o que, para muitos, é parte do charme. Em geral, o verão é ideal para quem busca aventura, trilhas e flexibilidade de transporte e o inverno é perfeito para contemplação, fotografia noturna e paisagens nevadas de tirar o fôlego.
Em Resumo
A jornada até Reine combina o melhor da mobilidade escandinava com a grandiosidade das paisagens árticas. Saindo de grandes centros como Oslo ou Trondheim, o trajeto de trem até Bodo já é uma atração por si só, passando por montanhas, lagos e florestas. De Bodo, a travessia marítima até Moskenes de ferry insere o viajante no coração do arquipélago das Lofoten, com vistas espetaculares durante todo o percurso. Por fim, um curto deslocamento por estrada leva até Reine, um dos vilarejos mais encantadores da Noruega — onde o mar, as montanhas e a cultura local formam um cenário que parece saído de um quadro.
Mais do que um destino, essa jornada é uma experiência que mistura contemplação, aventura e autenticidade. A combinação entre trilhos e fiordes, cidade e vilarejo, trem e ferry transforma o caminho até Reine em parte essencial da viagem. Seja para trilhar montanhas sob o sol da meia-noite ou observar a aurora boreal refletida nas águas calmas do Ártico, o norte da Noruega oferece algo que poucos lugares no mundo ainda preservam: o sentimento de descoberta.